quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Saber viver





Não sei...
Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.


(Cora Coralina)



Um lugar...

https://www.flickr.com/photos/harold_davis/4214231513/in/photostream/lightbox/ 


Um lugar de sons,
fumos quentes,
cheiros, aromas doces,
de tons diversos e tranquilos.
De segredos,
de palavras,
de momentos em harmonia.
Num apelo aos sentidos,
todos se fundem
e fazem nascer um lugar
suave e flutuante,
de tons tênues,
no qual não me canso de estar.



Arte: Lush red - rose by Georgia O'Keefe





quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Essência de Maiakóvski



"Nos demais, todo mundo sabe, 
o coração tem moradia certa, 
fica bem aqui no meio do peito, 
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração."


*

"Amar não é aceitar tudo. 
Aliás: onde tudo é aceito,desconfio que haja falta de amor."


*

"Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é para brilhar,
que tudo mais vá para o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol."


*
Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.


(Vladimir Maiakóvski)


Na imagem: Frida Kahlo and Vladimir Mayakovsky.





terça-feira, 4 de novembro de 2014

Cercanias

https://www.flickr.com/photos/gallfreitas/5996925846/



A alma de toda a gente tem cercanias.
A minha, não tem.
É um descampado.
Não tem telhado, não tem paredes.
Muitas vezes, nem chão.
E sinto no peito as encostas
de tudo o que sangra e corrói.

Também, toda a beleza me visita sem licença
E a poesia de tudo me acontece.
Mas a beleza, não raro, ela fere.
As garras de um beija-flor podem ser mortais
A uma alma sem pele.

Então, por isso, as vezes me exaspero e brigo
Para que o meu peito, em desabrigo,
Não seja tão violado.
Mas quando me sai o protesto,
minhas palavras também me sangram
E morro mais um tanto por dentro.

Já não quero a palavra que afugenta a dor.
Quero o silêncio que cicatriza a ferida
E que a prepara para a dor mais forte:
A própria dor da Vida.

(Autor desconhecido)



Primeira Palavra

https://www.flickr.com/photos/gallfreitas/4612775598/



Aproxima o teu coração
e inclina o teu sangue
para que eu recolha
os teus inacessíveis frutos
para que prove da tua água
e repouse na tua fronte
Debruça o teu rosto
sobre a terra sem vestígio
prepara o teu ventre
para a anunciada visita
até que nos lábios humedeça
a primeira palavra do teu corpo.

(Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho')


sábado, 1 de novembro de 2014

Outra vez na estrada

https://www.flickr.com/photos/gallfreitas/5504229016/


Preso nessa cela
De ossos, carne e sangue,
Dando ordens a quem não sabe,
Obedecendo a quem tem,
Só espero a hora,
Nem que o mundo estanque,
Pra me aproveitar do conforto,
De não ser mais ninguém.

Eu vou virar a própria mesa,
Quero uivar numa nova alcatéia,
Vou meter um "Marlon Brando" nas idéias,
E sair por aí,
Pra ser Jesus numa moto,
Che Guevara dos acostamentos,
Bob Dylan numa antiga foto,
Cassius Clay antes dos tratamentos,
John Lennon de outras estradas,
Easy Rider, dúvida e eclipse,
São Tomé das letras apagadas,
E Arcanjo Gabriel sem apocalipse.

Nada no passado,
Tudo no futuro,
Espalhando o que já está morto,
Pro que é vivo crescer,
Sob a luz da lua,
Mesmo com sol claro,
Não importa o preço que eu pague,
O meu negócio é viver.

Sob a luz da lua...
Mesmo com sol claro...
Preso nesta cela... 

(Jesus numa moto- Sá, Rodrix & Guarabira)


Anima

https://www.flickr.com/photos/gallfreitas/


Lapidar minha procura toda trama
Lapidar o que o coração com toda inspiração
Achou de nomear gritando... alma
Recriar cada momento belo já vivido e mais,
Atravessar fronteiras do amanhecer,
E ao entardecer olhar com calma e então

Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber
Casa cheia de coragem,
vida tira a mancha que há no meu ser
Te quero ver, te quero ser
Alma

Viajar nessa procura toda de me lapidar nesse momento agora
De me recriar, de me gratificar de custo alma, eu sei
Casa aberta onde mora o mestre, o mago da luz, onde se encontra o templo
Que inventa a cor animará o amor onde se esquece a paz
Alma vai além de tudo que o nosso mundo ousa perceber
Casa cheia de coragem,
vida todo afeto que há no meu ser
Te quero ver, te quero ser


(Milton Nascimento/José Renato)