sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Delicated sound of thunder






"Somos um delicado som que passa quase despercebido pelas almas daqueles que encontramos no dia a dia... uma delicada brisa... um delicado toque invisível...
uma breve onda
que reverbera silenciosamente em palavras...
sem som.


(Charles Popoff)




quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Asa





"... e então quando contigo eu estiver nua
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa
Minha asa da Loucura
A cada dia..."




Minha metade...





"Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza...
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção...
E que o teu silêncio me fale cada vez mais...
porque metade de mim é amor
e a outra metade também."



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Então é assim...





De coisas e pessoas incompreensíveis para mim, o mundo e a vida estão cheios. Quanto mais tempo escorre, menos os compreendo. Mas não me importo mais em compreender, nem mesmo justificar as razões para atos de qualquer espécie, sobretudo, os irracionais.

O que me cansa realmente é a hipocresia, aquela vinda aos poucos, comendo pelas beiradas se esgueirando e tomando conta. Uma hipocresia sem más intenções, se possível for, de umas pessoas que criticam e fazem exatamente a mesma coisa, quando não, pior. Como dizem no popular: o sujo falando do mal lavado. Sinceramente, isso me cansa de verdade, me suga as energias, me deixa com raiva mesmo.

Resignada, não passo recibo assumindo o papel de cínica ou de sábia, mas conservo minha boa memória, registro cada atitude, cada conduta. Não sou senhora de toda virtude, não sou boazinha. Meu tiro é certeiro e minha munição nunca acaba.

Confesso minha ignorância e refocilo na alheia. Aos menos garanto boas risadas.


(Teórico)



Sozinha





Fim de semana comum, involuntário, acordei cedo demais apesar do esforço para permanecer na cama até mais tarde. Assim dava a impressão que o dia estava mais curto e então eu não precisaria vagar pelo quarto vazio, sem nenhuma vontade especial, apenas olhar pela janela.

Espiava o movimento das ruas, o verde das árvores com vontade de sentar num banco de praça, comendo uma maçã ao sol. Mas não havia praça próxima, nem sequer tinha sol, nem verde lá fora.

Permanecia parada atravessando a manhã sem fumar ou falar sozinha. Cortava as unhas dos pés e das mãos e depois vinha insinuando aos poucos, uma vontade de quem alguém telefonasse, tocasse a campainha, chamasse lá fora. A princípio a vontade era vaga, mas a medida que o dia passava, ela ficava mais nítida, até chegar quase a ferir feito uma dor, agulha, brasa.

Nada acontecia. Aquela como uma vontade de ser feliz. Deve haver alguma ordem ou estar noutro lugar onde fosse possível sentar ao sol comendo maçãs. Companhia e telefones mudos, a maçã a se transformar em tarde, energia venenosa a sufocação, vontade de fugir, de não ser quem sou, nem ter vivido nenhuma das coisas que vivi.

Todo um passado desembocava ali naquele momento em pleno centro das manhãs, ou quando as manhãs já tinham virado tarde, ficava existindo o silencioso e imóvel no centro do dia. Quase sempre o sol não aparecia, a manhã acinzentava aos poucos, chovia então. Chovia muito, os papéis amoleciam, as paredes mofavam.

A alma, se existia, curvava os ombros. Em vez de maçãs tinha uma vontade então de qualquer coisa como um chá, como se fosse velha, como se tivesse dobrado a margem dos movimentos que levam pelo tempo afora.

(Teórico)




domingo, 25 de outubro de 2009

Estado de ser




Nem tão bem quanto gostaria. Nem tão mal quanto aparento estar.

(Ou seria o contrário?)
Nada que impeça o espírito de acalmar da alma sorrir.
(Ou seria o contrário?)
No fundo vale mais a pena ser do que estar.
(Ou será que também é o contrário? Muita gente acha que sim...)

(Teórico)



Decepção...


Porque nos decepcionamos com uma pessoa, com um acontecimento, com uma situação, com a vida? A decepção é um sentimento frustante, talvez seja asensação que mais me entristece, me deita abaixo, me impede de continuar, me bloqeia.

Será que criamos expectativas altas demais? Ou será que as expectativas eram normais, próprias e adequadas, mas a decepção teimosamente nos bate à porta? Será um problema de ansiedade, de querermos que tanto se realize, que tanto aconteça? Será que somos exigentes demais, e exigimos dos outros, coisas que nem nós próprios sabemos fazer? Será que uns são mais afeitos a decepções que outros? Será que uns, nem percebem a decepção, não lhe dando a importância que outros lhe dão? Será que as decepções só acontecem aos emotivos? Aos frágeis? Aos corajosos? Aos exagerados? Aos idiotas?

E acordar depois de uma decepção? Acordar para a Vida, acordar para o Dia, pôr os pés fora da cama, levantar o corpo, calçar qualquer coisa para começar a pisar o chão, a terra, olharmo-nos no espelho, enxergar olhos decepcionados...

E depois, muitas vezes voltar ao mesmo tempo, ao mesmo local, ver a mesma pessoa, ter de falar com essa pessoa, voltar e reencontar o mesmo ambiente, o mesmo cenário…..Isso tudo eu relevo porque meu coração não guarda rancor. O pior de tudo é que eu só queria uma coisa: que não ficasse sem dar notícias....pois havia uma perspectiva dada pela própria pessoa, coisa ou situação com o relacionamento.

Reagir…. Como se faz para Re Agir? Reagir é voltar a agir! Para voltar a agir, é preciso ter vontade de agir. E o mundo que nos rodeia, exigente, que não tolera a insatisfação, não tolera tristezas, que como uma criança mimada, quer-nos lindos, contentes, sorrizinhos, arranjados, elegantes, perfeitos, e todos nos pedem, “Vá reage, faz qualquer coisa, tens de melhorar! Lá estás tu com o teu péssimismo!…”. E para culminar, lá dizem a frase: “Não percebo, porque ficas assim, não é caso para isso!”. E nós, envolvidos num manto negro de tristeza, de amargos na boca, de nós no estomâgo, de dedos das mãos frios, de joelhos ligeiramente a quebrar, ficamos perplexos a olhar para aquela gente que nos diz “Que não é nada!”. Não é nada???! Mas não percebem, que para nós É TUDO! Que houve uma derrocada de terras, por cima da nossa boca, que houve uma inundação de líquidos salgados, que nos deixou molhados de suores frios, que o nosso coração saltou, mexeu-se, como se de um sismo se tratasse e nos deixou com taquicardia, que houve um corte a meio dos nossos pulmões, e os pôs a trabalhar em limites mínimos, que sentimos o sangue a parar nas veias e que fomos invadidos por um vento frio e quente, que levantou todas as areias no ar que nos sufocam e nos cegam? Pois, não vêem isto? Faltam as lágrimas? Ah, as lágrimas, as piegas lágrimas, que comovem os outros….. Mas olhem, os decepcionados não choram por fora, choram por dentro! Choram, choram, choram, até ficarem secos como um solo africano, seco, ressequido, morto…. Eu me sinto jogada fora... por pessoas que eu tenho consideração e que se diziam tão carente daquilo que também sinto. Companhia! Amizade! Conversa! Nada que fosse intimidar a vida de alguém...

(autoria desconhecida)

sábado, 17 de outubro de 2009

Se chovesse você





Se você fosse lua
Dormiria contigo na praia
Entraria contigo no mar

Choraria teu minguante

Seguiria teu crescente

Habitaria teu luar


Se você fosse sol

Eu seria girassol

Tua luz seria meu farol

Amaria teu calor
O teu fogo abrasador

Queimaria por amor


Se você fosse vento

Queria você todo momento

Pra enrolar meu cabelo

Levantar a minha blusa

Arrancar-me suspiro

Ser o ar que eu respiro


Se você fosse chuva

Eu me deixava molhar de prazer

Dançava na rua pra ter

Minha roupa bem molhada

Minha alma encharcada

Se chovesse você


(Eliana Printes / Adonay Pereira / Eliakin Rufino)




quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Não sei viver pela metade...




“Eu preciso aprender a ser menos.
Menos dramática.
Menos intensa.
Menos exagerada.
Alguém já desejou isso na vida: ser menos? Pois é.
Estranho. Mas eu preciso.

Nesse minuto,
nesse segundo,
por favor, me bloqueie o coração,
me cale o pensamento,
me dê uma droga forte para tranqüilizar a alma.
Porque eu preciso.

E preciso muito.
Eu preciso diminuir o ritmo,
abaixar o volume,
andar na velocidade permitida,
não tropeçar em mim mesma.
Eu preciso respirar.

Me aperte o pause,
me deixe em stand by,
eu não dou conta do meu coração que quer muito.
Eu preciso desatar o nó.
Eu preciso sentir menos,
sonhar menos,
amar menos,
sofrer menos ainda

Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase?

Confesso: Eu não consigo.
Nada em mim pára,
nada em mim é morno,
nada é pouco,
não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama.”

Desculpe, não sei VIVER pela metade !!!



Eu devo reconhecer




"Eu devo reconhecer que ninguém me conhece. Não realmente.
Os que mais sabem, não sabem da metade.
Não deixo todos os segredos escaparem de mim, não mesmo.
Uma delicadeza com os outros, eu diria, pois não quero assustar as pessoas com meu passado. Em especial aquelas que continuaram gostando de mim após o pouco que souberam.

Mesmo porque aquela, que esteve lá, não está mais aqui.
Eu sou literalmente outra.”
(Fernanda Young)



Estou cansada




"Eu não sou tão triste assim,
é que hoje eu estou cansada."

(Clarice Lispector)



Apenas poetas





Não tenho amigos, apenas poetas...
não sou do tipo muito esperta...
do meu silêncio, faço poesia...
da minha vida, não faço o que devia...




Ei




Ei amigo,
me da um
trago da
sua vida.



O amor é




Porque amor
É transbordo,

E infinitas reticências...

É desfazer formas

Em cores explosivas,

Criar movimento,

Espalhar luz.

É amar o sol

E recebê-lo no rosto,

No corpo, na alma.

Procurar agarrar

O som.

Ser profundamente misterioso

Como o mar,

E com ele orientalmente

Transbordar

Porque é

E assim sendo

É amor!


(Fernanda Botelho)



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Estrangeiro





"Será que, à medida que você vai
vivendo, andando, viajando,
vai ficando cada vez mais estrangeiro?

Deve haver um porto."

(Caio Fernando Abreu)




Verbo viver ...





"Estive doente
doente dos olhos, doente da boca,
dos nervos até.
Dos olhos que viram homens formosos
da boca que disse poemas em brasa
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente
estou em repouso, não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras
eu quero a doçura do verbo viver."
"

(Caio Fernando Abreu)



Há pessoas...





"Há pessoas que falam e
nem as escutamos...
Há pessoas que nos ferem e nem
cicatrizes nos deixam...
Mas há pessoas, que simplesmente
aparecem em nossas vidas...
e nos marcam para sempre...

(Cecília Meirelles)



Confissão




Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

(Mário Quintana)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Eu te recebo




"Eu te recebo de pés descalços:
esta é minha humildade
e esta nudez de pés
é a minha ousadia."

(Clarice Lispector )



Um lugar




"Um lugar de sons,

fumos quentes,

cheiros, aromas doces,

de tons diversos e tranquilos.

De segredos,

de palavras,
de momentos em harmonia.
Num apelo aos sentidos,

todos se fundem
e fazem nascer um lugar
suave e flutuante,

de tons tênues,
no qual não me canso de estar.
"



Caçador De Mim




"Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz:
Eu, caçador de mim.

Preso a canções, entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar longe do meu lugar:
Eu, caçador de mim.

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir as armadilhas da mata escura.

Longe se vai sonhado demais

Mas onde se chega assim
Vou descobrir o que me faz sentir:
Eu, caçador de mim."

(Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão)



segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Seres tribais





"Somos seres tribais, e alcançaremos o caminho de nossa verdade interior intuidesenhotivamente. Abriremos picadas em florestas densas, e superaremos nossas dificuldades aprendendo a caminhar sem temor. Usaremos nossos sentidos e os quatro elementos naturais como nossos guias, contrapondo nossos conhecimentos primitivos à futurista tecnologia, e provaremos que o retorno do ser humano ao seu sentido básico e primitivo de sobrevivência ainda é possível nesse início de milênio."

(Márcio de Aquino)



Pessoas que nos fazem voar





"Há pessoas que nos fazem voar.

A gente se encontra com elas e leva um bruta susto.

Primeiro, porque o vento

começa a soprar dentro da gente,

e lá de cantos escondidos de nossas montanhas

e florestas internas,

aves selvagens começam a bater asas,

e a gente não sabia que tais entidades mágicas

moravam dentro de nós,

elas nos surpreendem e nos descobrimos

mais selvagens, mais bonitos, mais leves,

com uma vontade incrível de subir até as alturas,

saltando de penhascos..."


(Rubem Alves)



Às vezes ela chora...




"Escrevo porque encontro nisso um prazer
que não consigo traduzir.

Não sou pretensiosa.

Escrevo para mim, para que eu sinta
a minha alma falando e cantando,
às vezes chorando..."

(Clarice Lispector)




Lealdade




"Em determinadas circunstâncias, parece que a falsidade é que governa um convívio, uma situação ou os destinos de alguém. Porém, tudo isso é mera ilusão. No tempo certo acabará ruindo completamente como um castelo de areia. Pode parecer que o castelo tem muito encanto e beleza, mas é puro engano. Assim como a verdade se revela por si mesma, a falsidade desmorona-se pela sua própria inconsistência. Aquele que é leal, devido à sua retidão, é sempre mantido na mais elevada estima na mente e no coração de todos."

(Antônio Sequeira)



Fui... Hoje sou...




"Fui tempestade, que devasta e arrasa,
mas abre caminhos e prepara o solo.

Fui chuva forte, que alaga e encharca,

mas fertiliza e sacia a sede.

Fui sereno na madrugada de lugares distantes.

Hoje sou orvalho, que nutre e anuncia

o nascer de um novo dia."

(Maiakovski)



Juramento




"Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.

Está provado,
pensado,
verificado.

Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:

Amo
firme,
fiel
e
verdadeiramente."

(Maiakovski)



domingo, 11 de outubro de 2009

Andanças




"Vim tanta areia andei

Da lua cheia eu sei

Uma saudade imensa


Vagando em verso eu vim

Vestido de cetim

Na mão direita rosas vou levar...


Olha lua mansa se derramar

Ao luar descança o meu caminhar

Seu olhar em festa se fez feliz

Lembrando a seresta que um dia eu fiz

Por onde for quero ser seu par...


Já me fiz a guerra por não saber
Que essa terra encerra o meu bem querer

E jamais termina o meu caminhar

Só o amor me ensina onde vou chegar

Por onde for
Quero ser seu par...

Rodei de roda andei

Dança da moda eu sei

Cansei de ser sozinha


Verso encantado usei

Meu namorado é rei

Nas lendas do caminho

Onde andei...


No passo da estrada só faço andar

Tenho o meu amor a me acompanhar

Vim de longe léguas cantando eu vim

Vou lá faço tregua sou mesmo assim

Por onde for
Quero ser seu par...

Já me fiz a guerra por não saber

Que essa terra encerra o meu bem querer

Que jamais termina o meu caminhar
Só o amor me ensina onde vou chegar
Por onde for

Quero ser seu par"



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Corpo




Adorei teu corpo,

Tombei de joelhos.

Escostei a fronte,

O rosto, em teu ventre.

Senti o gosto acre

De santidade
Do corpo nu.

Absorvi a existência,
Vi todas as coisas numa só,

Compreendi
o princípio do Mundo.



Prece ao teu corpo...





"Preciso do veludo

dos teus cílios
da maciez

e da audácia do

teu cheiro

da embriaguez

que vem da

tua boca

Preciso te tocar

preciso voltar

a ouvir

o som

do teu corpo."



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Corpo e alma




Corpo e alma
,
cheiros e mel,

deliciosamente meu,

despudoradamente sua...

no prazer da loucura de nós dois
.
(Gall e Fernando)



O relógio





"O relógio da minha solidão

Estava atrasado hoje

Por isso fui feliz."

(Guilherme Coimbra)



A exceção e a regra




"Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.

Sintam-se perplexos ante o cotidiano.

Tratem de achar um remédio para o abuso.
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.
"
(Bertold Brecht)



quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sempre onde chego é um lugar





“Ninguém pode imaginar a pequenez da minha cidadezinha.
Lá, porém,
há gente que me dá os bons-dias-”


"Sempre onde chego é um lugar. Mas abrigo maior não encontrei senão nas paragens da memória. É lá que reside minha cidadezinha natal, que se acende devagarinhosa, como barco saindo de um lodoso escuro. Esse lugar se senta em minha meninice como se o único território fosse o tempo. Esse outro tempo escorria em obediência a secretos mandos de preguiça. Os acontecimentos do mundo ali aportavam sempre tarde, bem depois de atravessarem distancias tais que se desbotava a realidade que lhes tinha ditado origem."
(Mia Couto)



Parti, fui sem mim.




"Parti, fui sem mim.

quase sem fronteira de si.

Mulher De Mim


Naquela noite, as horas me percorriam, insones ponteiros. Eu queria só me esquecer-me. Assim deitado, não sofria outra carência que não fosse, talvez, a morte. Não aquela, arrebatante e definitiva. A outra: a morte-estação, inverno subvertido por guerrilheiras florações. Eu queria avisar-lhe que estava enganada, que aquele não era seu competente endereço. Mas o silêncio me alertou que ali estava a decorrer um destino, o cruzar das fatais providências. Não sei o quanto demorou. Talvez umas tantas noites. Ou escassos instantes. Nem sei. Porque adormeci, ansioso por me suprimir. Doeu-me acordar, malvorei-me. Nesse custo, entendi: acordar não é a simples passagem do sono para a vigília. É mais, um lentíssimo envelhecimento, cada despertar somando o cansaço da inteira humanidade. E concluí: a vida, ela toda, é um extenso nascimento."
(Mia Couto)


Miudádivas, pensatempos, proesias




"Estou sem texto, enriquecido de nada. Aqui, na margem de uma floresta em Niassa, me desbicho sem vontades para humanidades. Entendo só de raízes, vésperas de flor. Me comungo de térmites, socorrido pela construção do chão. No último suspiro do poente é que podem existir todos sóis. Essa é minha hora: me ilimito a morcego. Já não me pesam cidades, o telhado deixa de estar suspenso ao inverso em minhas asas. Me lanço nessa enseada de luz, vermelhos desocupados pelo dia.
Nesse entardecer de tudo vou empobrecendo de palavras. Não tenho afilhamento com o papel, estou pronto para ascender a humidade, simples desenho de ausência. Na tenda onde me resguardo me chegam, soltas e díspares, de visões, pensatempos, proesias. Assim, em miudádivas ao poeta:

...Nada se parece tanto: poente e amanhecer.
Defeitos na tela do firmamento?
Instantâneas aves,
pedras que se despoentam.
A noite acende o escuro.
Tudo semelha tudo.
Só a coruja atrapalha a eternidade.

Está chovendo horas,
a água está a ganhar-me semelhanças.
Escuto ventos,
derrames de céu.

Parecem-me luas e são lábios.
Lembranças de minha amada.
A tua boca me ilude, sou culpado de teu corpo.
Saudade: sou mais tu que tu..."
(Mia Couto)



Minha raça sou eu mesmo



"Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual.


História de um homem é sempre mal contada. Porque a pessoa é, em todo o tempo, ainda nascente. Ninguém segue uma única vida, todos se multiplicam em diversos e transmutáveis homens.
Agora, quando desembrulho minhas lembranças eu aprendo meus muitos idiomas. Nem assim me entendo. Porque enquanto me descubro, eu mesmo me anoiteço, fosse haver coisas só visíveis em plena cegueira." (Mia Couto)


Para você...




"Entre o teu signo e o meu
existe uma possibilidade
de veneno,
umas tintas de vermelho"...

Mas se há de ser amor,

meu moreno,

que seja louca e linda

a nossa história.


sábado, 3 de outubro de 2009

Tens...





"Tens uma doçura que me desarma,

um sorriso enorme que me abraça,

um olhar perdido do mundo

que se encontra quando encontra o meu,

tens mãos de médico e coração de índio,

tens a magia das pessoas tocadas pela sorte

e pela bem-aventurança

e tens-me a mim.

E, mesmo que os dias no mundo cá fora

tenham relógios em vez de comboios

e passem com a mesma vertigem

com que vivias antes de me conhecer,

eu sei que o nosso tempo

vai chegar sem nunca chegar ao fim,

nestes momentos em que a

perfeição se cruza com a realidade

e nos transporta para um mundo

só nosso. "

(in "Nazarenas e Matrioskas", MRP.)



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Hoje....




Hoje eu vou mudar

Vasculhar minhas gavetas

Jogar fora sentimentos e
ressentimentos tolos.
Fazer Limpeza no armário
Retirar traças e teias

E angústias da minha mente.

Parar de sofrer por coisas tão pequeninas

Deixar de ser tão menina

Para ser mulher!



02 de outubro de 2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fado Ladino



Sopra uma brisa quente que me leva

Ao Oriente que há em mim
Como um tapete que no ar se eleva
E que me tira os pés do chão
Memórias do meu coração

Será miragem este meu caminho?
Será que um dia vai ter fim?
Será que o vento esconde o meu destino?
Destrás da sombra, solidão
Fado ladino, coração

Há uma Rosa Negra à minha espera
Entre as delícias do jardim
E num oásis de esperança eterna
Um sentimento de jasmim
Memórias do meu coração.