Fim de semana comum, involuntário, acordei cedo demais apesar do esforço para permanecer na cama até mais tarde. Assim dava a impressão que o dia estava mais curto e então eu não precisaria vagar pelo quarto vazio, sem nenhuma vontade especial, apenas olhar pela janela.
Espiava o movimento das ruas, o verde das árvores com vontade de sentar num banco de praça, comendo uma maçã ao sol. Mas não havia praça próxima, nem sequer tinha sol, nem verde lá fora.
Permanecia parada atravessando a manhã sem fumar ou falar sozinha. Cortava as unhas dos pés e das mãos e depois vinha insinuando aos poucos, uma vontade de quem alguém telefonasse, tocasse a campainha, chamasse lá fora. A princípio a vontade era vaga, mas a medida que o dia passava, ela ficava mais nítida, até chegar quase a ferir feito uma dor, agulha, brasa.
Nada acontecia. Aquela como uma vontade de ser feliz. Deve haver alguma ordem ou estar noutro lugar onde fosse possível sentar ao sol comendo maçãs. Companhia e telefones mudos, a maçã a se transformar em tarde, energia venenosa a sufocação, vontade de fugir, de não ser quem sou, nem ter vivido nenhuma das coisas que vivi.
Todo um passado desembocava ali naquele momento em pleno centro das manhãs, ou quando as manhãs já tinham virado tarde, ficava existindo o silencioso e imóvel no centro do dia. Quase sempre o sol não aparecia, a manhã acinzentava aos poucos, chovia então. Chovia muito, os papéis amoleciam, as paredes mofavam.
A alma, se existia, curvava os ombros. Em vez de maçãs tinha uma vontade então de qualquer coisa como um chá, como se fosse velha, como se tivesse dobrado a margem dos movimentos que levam pelo tempo afora.
(Teórico)
Espiava o movimento das ruas, o verde das árvores com vontade de sentar num banco de praça, comendo uma maçã ao sol. Mas não havia praça próxima, nem sequer tinha sol, nem verde lá fora.
Permanecia parada atravessando a manhã sem fumar ou falar sozinha. Cortava as unhas dos pés e das mãos e depois vinha insinuando aos poucos, uma vontade de quem alguém telefonasse, tocasse a campainha, chamasse lá fora. A princípio a vontade era vaga, mas a medida que o dia passava, ela ficava mais nítida, até chegar quase a ferir feito uma dor, agulha, brasa.
Nada acontecia. Aquela como uma vontade de ser feliz. Deve haver alguma ordem ou estar noutro lugar onde fosse possível sentar ao sol comendo maçãs. Companhia e telefones mudos, a maçã a se transformar em tarde, energia venenosa a sufocação, vontade de fugir, de não ser quem sou, nem ter vivido nenhuma das coisas que vivi.
Todo um passado desembocava ali naquele momento em pleno centro das manhãs, ou quando as manhãs já tinham virado tarde, ficava existindo o silencioso e imóvel no centro do dia. Quase sempre o sol não aparecia, a manhã acinzentava aos poucos, chovia então. Chovia muito, os papéis amoleciam, as paredes mofavam.
A alma, se existia, curvava os ombros. Em vez de maçãs tinha uma vontade então de qualquer coisa como um chá, como se fosse velha, como se tivesse dobrado a margem dos movimentos que levam pelo tempo afora.
(Teórico)
Nenhum comentário:
Postar um comentário