“Vai-se armando o mundo no qual se queira, se possa ou se aceite viver, a partir de dados que são recebidos desde que se nasce. Se arma um quebra-cabeças infinito, ao qual sempre se pode agregar, e de fato se agregam, novas peças, inclusive entre duas peças que pareciam perfeitamente ajustadas: parecia que ali, justamente ali, a imagem, ou pedaço de imagem, estava completa; porém surge outra peça e se encaixa entre essas outras duas tão ajustadas, se encaixa e muda o significado desse pedaço de mundo, talvez do mundo inteiro — desse mundo que criamos ou que seguimos criando enquanto vivemos.
Fora desse mundo criado, está todo o resto. O que não conhecemos, o que não suportamos, o que nos desgosta mais além do desgosto que podemos tolerar. Fora desse mundo que criamos para poder viver, encontra-se o mundo real, incognoscível: o mundo que não era para nós.”
Fora desse mundo criado, está todo o resto. O que não conhecemos, o que não suportamos, o que nos desgosta mais além do desgosto que podemos tolerar. Fora desse mundo que criamos para poder viver, encontra-se o mundo real, incognoscível: o mundo que não era para nós.”
(Mario Levrero, "Irrupciones")
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